terça-feira, 22 de novembro de 2011

Ainda há


Se quiser eu posso te contar sobre o meu dia. Te falar que me atrasei logo de manhã, que meu café foi quase uma corrida contra o tempo. Posso te contar que eu quis te ligar, mas o receio me impedia, e eu já sabia, que não demoraria muito e você me ligaria. Ainda posso te contar tantas coisas. Ainda tenho tanta vontade de te ensinar as coisas que aprendo todos os dias...

Se você preferir eu posso não falar nada, e me dedico à ouvir o som da sua respiração. Posso só deitar no teu colo e contar os teus poros, posso só te ceder meu cabelo pra você bagunçar. Eu ainda posso tantas coisas... ainda há tantos detalhes nos nossos corpos à serem observados...

Mas eu também posso me exceder, posso tudo ao mesmo tempo, conversar, gritar, contar teus poros. Posso te fazer rir como de costume, posso te tirar do sério, que não é novidade, posso te chamar pra sair que seria uma surpresa. Ainda há tanto o que admirar... ainda há tanto com que surpreender...

Não espere que eu defina, dê nomes e consiga explicar. Não espere que eu tenha um motivo pra te procurar e te prender a mim. Basta você saber que ainda há.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Erros úteis


Só compreenderá a atração entre corpos inimigos, aquele que conseguir deixar de lado tal magnetismo, e deixar de usufruir para confundir-se em cálculos intermináveis. Só provará para si que sabe da vida, aquele que se permite errar - forma mais inteligente e prática de se aprender. Onde estará a sapiência se não difusa na luz depois das noite errônias? Infeliz daquele que segue o meio-fio. Infeliz daquele que não tropeça. Este, terminará sua jornada com os dedos intactos, e jamais poderá contar à alguém a origem de cada cicatriz. Declinar a cabeça e não ver marcas e feridas nos pés, é não ter lembrança de nada. Este procurará uma pedra para chutar, e perderá os pés, tão poupados pés. Levará consigo a ânsia de errar quando não mais poder, e verá que seguiu todas as regras, quando o divertido é quebrar.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

As cores do dia seguinte


Todos os dias amanhecem com uma missão. Alguns brilham pra te fazer sorrir, outros pra te fazer chorar, outros pra te deixar indiferente, quando você não está feliz nem triste, ou tem vontade de rir e chorar ao mesmo tempo. Alguns dias amanhecem pra te trazer pessoas, outros dias parecem verdadeiras madrugadas frias e escuras, quando vêem pra levar alguém. Tem dias que nem amanhecem, e pro nosso próprio bem, se mantém escuro e cura a ressaca da noite passada. Haverá dias que te farão pensar mais no que fazer no próprio dia, para que nenhuma hora passe em vão. Um vai te trazer conquistas, outro vai te trazer derrotas e guerras perdidas. Um dia vai estar tudo azul, no outro você pode estar no vermelho, e sempre tem dias que a coisa ta preta. E é justamente por causa dessa gama de situações coloridas, cada uma na sua nuance, que saltam aos olhos a vontade de ver a noite chegar, para amanhecer logo um outro dia e saber qual a cor da vez. É com toda a beleza da vontade de melhorar que os dias amanhecem, e as noites, servem para descansar os olhos, pois as cores do dia seguinte serão sempre bem mais fortes, vistosas e brilhantes.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Prazeroso suicídio


Eu deveria morrer de ódio, por saber que de nada adiantou passar tanto tempo longe. Eu deveria me auto-mutilar, como se fosse um princípio moral, honrar as minhas decisões. Eu fui fraco, e cedi. Era pra eu ser enclausurado, adotar um regime militar, ser exilado e ter as unhas arrancadas, por ir contra a minha conduta, por ter feito de palhaço meu ego. Eu tinha que ficar ajoelhado num chão em brasa, de cara pra parede, sempre esperando a próxima chicotada, pra eu nunca esquecer o mal que esse vício me fez. Nada disso, nenhum destes castigos seria maior que ter as mãos arrancadas e nunca mais poder te tocar. Ter a boca costurada e nunca mais poder te beijar. Ter os olhos furados e nunca mais mergulhar nos teus. É como se eu gostasse de morrer. Como se cada beijo fosse um suicídio, e depois, a sensação de vida eterna. É por isso que eu provo esse inferno, por que ele me dá meia hora de céu.